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TESTE DE BORELLI (SPECIFIC AEROBIC GYMNASTIC ANAEROBIC TEST-SAGAT)-PARTE 1

  • Foto do escritor: Borelli
    Borelli
  • 14 de out. de 2021
  • 9 min de leitura

Atualizado: 2 de jul. de 2022






É com muita alegria e orgulho que publico em meu blog toda a história, validação e análise do que parece ter sido o primeiro teste validado no mundo para a Ginástica Aeróbica.


O assunto é extenso e será necessário dividi-lo em 2 postagens para que a abordagem da avaliação seja feita da melhor forma possível.


Na primeira parte será apresentado um pouco da fisiologia da Aeróbica, histórico do teste e a validação do mesmo através do artigo veiculado na revista Plos One em abril de 2015 e para ler o paper na íntegra é só acessar o link abaixo.


Para a segunda parte ficará reservado a utilização da avaliação como ferramenta de diagnóstico e controle do treinamento por meio dos dados fornecidos pelo teste.


Certamente será bastante proveitoso, então mãos à obra!

ASPECTOS METABÓLICOS DA GINÁSTICA AERÓBICA


É fundamental tentarmos analisar as vertentes fisiológicas da Ginástica Aeróbica para que o planejamento do treinamento e as avaliações sejam realizados da forma mais racional e coerente possível.


Em 2015 a publicação de um interessante artigo vindo da Lituânia (Physiological Responses and Energetics of Competitive Group Exercise in Female Aerobic Gymnasts with Different Levels of Performance, Aleksandraviciene et al) que através da monitoração da frequência cardíaca, teste de medida direta na esteira, coleta de lactato e contando também com a utilização do Oxycon Mobile (analisador de gases portátil que faz medições de importantes parâmetros ergoespirométricos) realiza uma excelente análise destacando a contribuição das vias energéticas (aeróbia, anaeróbia alática e lática) no decorrer da coreografia de competição de 2 grupos distintos, um deles de nível internacional e outro nacional, chegando na conclusão que a demanda aeróbia é um pouco superior em ambos mas também sinalizando um aporte anaeróbio muito elevado nos mesmos. (figura 01)

É fundamental ressaltar que diferente do regulamento atual onde o tempo da coreografia é de 1’ 20” (80 segundos) na investigação lituana, realizada antes de 2015, a duração da rotina de competição era bem maior (1’45”/105 segundos) podendo gerar resultados diferentes caso o mesmo protocolo do estudo fosse aplicado seguindo o código de 2021.


Seria muito interessante que o estudo dos autores lituanos fosse reproduzido com o tempo de duração da coreografia atual, certamente teríamos uma resposta mais direta para a real contribuição de cada via energética.


É considerável atentarmos a dois artigos não específicos da Ginástica Aeróbica mas de grande relevância internacional, o primeiro intitulado Energy System Interaction and Relative Contribuition Duration Maximal Exercise (Gastin,2001) o qual aponta que a partir de 75 segundos de um esforço máximo a contribuição aeróbia passa a ser minimamente maior mas ficando evidente também a solicitação intensa da via anaeróbia. (figura 02)

O outro paper intitulado Estimation of the Contribution of the Various Energy System During of the Maximal Work of Short Duration (Serresse et al,1998) indica, de acordo com a figura 03, que os estímulos de intensidade máxima na faixa entre 61 e 75 segundos apresentam um predomínio do sistema oxidativo.

Interessante verificarmos a figura extraída do livro de Bompa, 2001 (Periodização no Treinamento Esportivo) onde ele determina a composição dominante entre as capacidades biomotoras para vários esportes, e que apesar de não apresentar dados específicos da Aeróbica, trás a Ginástica Artística masculina onde é possível traçarmos um paralelo e observar a relevância da força e da velocidade, inerentes ao metabolismo anaeróbio alático e lático em relação a resistência associada com a via aeróbia. (Figura 04)

Dentro deste quadro exposto com as informações acima e pelas características de alta intensidade e complexidade na coreografia da Ginástica Aeróbica podemos deduzir que o fator predominante pode até ser o aeróbio mas o determinante, anaeróbio.


Por outro lado Kyselovicova e Danielova, 2014 (The Functional Response to Training and Competition Load in Aerobic Gymnastics Athletes) afirmam que em termos de vias energéticas o desempenho na Aeróbica, o qual é caracterizado pela dinâmica do movimento com suas mudanças rápidas de direção, planos e também devido a duração e intensidade da coreografia, faz com que os ginastas apresentem um aumento na concentração de lactato sanguíneo durante e após a realização da rotina competitiva tornando desta maneira a via anaeróbia de forma predominante.


Os artigos Parameters of Fitness in the 11- to 22- Year-Old Female Athletes Involved in Aerobic Gymnastics (FILIPPOVA e MATVEEVA, 2014) e Z”-Scores of Anthropometric and Motor Parameters of Girls in Aerobic Gymnastics (TIBENSKÁ e MEDEKOVÁ, 2014) indicam que a resistência cardiorrespiratória é de suma importância para a realização de toda a sequência coreográfica proposta, na qual os ginastas apresentam um alto nível de desempenho neuromuscular, cardiovascular e um tipo misto (aeróbio e anaeróbio) de produção de energia durante sua execução


Bedoya et als, 1999 (Características Morfológicas y Funcionales del Aeróbic Deportivo) reiteram que fisiologicamente no decorrer da coreografia, pelas alternâncias que ocorrem entre esforços curtos e repetidos de alta e média intensidade, cria-se um jogo funcional entre os sistemas anaeróbios ATP-CP e Glicolítico, com o organismo utilizando toda a sua reserva de ATP e produzindo mais energia através da glicólise anaeróbia para prolongar a duração do esforço e manter elevada a intensidade solicitada até o final da rotina competitiva do ginasta.


Como demonstrado com tudo descrito até agora, ficou evidente que o sistema glicolítico é bastante solicitado e determinante no alto desempenho da Ginástica Aeróbica e ao possibilitar o controle desta via energética cria-se uma ferramenta considerável na prescrição e ajuste das cargas de treinamento no decorrer da planificação do atleta, e para isso um teste específico foi criado intitulado de SAGAT (Specific Aerobic Gymnastic Anaerobic Test) também conhecido por Teste de Borelli (Borelli’s Test).


SPECIFIC AEROBIC GYMNASTIC ANAEROBIC TEST (SAGAT) / TESTE DE BORELLI


A história com o SAGAT teve seu início no final da década de 1990 onde a intenção era avaliar a condição física específica do ginasta relacionada com a demanda energética determinante da coreografia (ou seja, a via glicolítica de acordo com o já discutido acima) sem que o mesmo tivesse a necessidade de realizar sua rotina competitiva.


A ideia foi a criação de um teste realizado com as características fisiológicas similares com a coreografia e posteriormente fazer uso dos dados para criar uma interessante ferramenta de controle e ajuste no treinamento do ginasta para aprimorar seu rendimento no âmbito de sua rotina de competição.


Naturalmente ocorreram modificações e adaptações desde seus primórdios e a partir de 2007 o Teste de Borelli adotou o protocolo que é realizado até hoje.

Em 2013 junto ao amigo Christiano Robbles, que na época era pesquisador e integrante do Departamento de Biodinâmica do Movimento do Corpo Humano da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da Universidade de São Paulo (USP), firmou-se uma parceria para a aplicação e validação do teste que ocorreu em 2015 após a publicação na reconhecida revista científica Plos One através do artigo denominado Development of a Specific Anaerobic Field Test for Aerobic Gymnastics. (Figura 05)

Com o passar dos anos o paper foi visualizado milhares de vezes, obteve citações em outras publicações acadêmicas e livros, conforme relatado através de alguns exemplos demonstrados nas figuras 06,07 e 08.

É relevante citar que no campeonato mundial da Ginástica Aeróbica deste ano (Azerbaijão/2021) o artigo foi relacionado dentro dos revistos na modalidade no decorrer do congresso técnico da Federação Internacional de Ginástica que ocorre junto a competição. (figura 09)

Outras situações bastante gratificantes foram a utilização do teste na preparação da seleção italiana para o Mundial de 2016 e agora em 2021, com o SAGAT sendo incluso no processo de avaliação da equipe brasileira visando também a preparação para o campeonato mundial (figura 10)

VALIDAÇÃO DO SAGAT (TESTE DE BORELLI)

Antes de dissertarmos sobre a validação do Teste de Borelli faz-se necessária uma observação muito significante.


Depois de centenas de testes no decorrer de vários anos, que vão desde o início da aplicação do SAGAT até a data da sua investigação para a publicação (2007-2013), a curva dos resultados sempre se demonstrou muito similar em todos os momentos da temporada competitiva na qual foram coletados instigando a averiguação desse quadro. (Figura 11)

Isso é Ciência Aplicada, a qual visa o emprego do conhecimento para a solução de problemas práticos, ou seja, uma ideia voltada para resolver determinada questão é colocada em prática e caso pareça se mostrar eficiente no decorrer do tempo é posta em prova posteriormente para validar cientificamente sua real eficácia.


E foi exatamente isso que aconteceu com o Teste de Borelli que surgiu de uma necessidade de controlar de alguma forma a condição física específica do ginasta voltada para a coreografia competitiva, e que depois de muita aplicação com diversos atletas junto dos resultados que se mostraram de forma homogênea ao longo das temporadas, foi devidamente investigado e depois validado como uma ferramenta importante no controle do treinamento na Ginástica Aeróbica.


Obs*- O significado e as análises apresentadas na figura 11 relacionadas com Índice Numérico Médio e Diferença entre as Séries serão prontamente discutidas na 2° parte desta publicação


O SAGAT foi inicialmente elaborado em 2007 e após centenas de testes aplicados

no decorrer das planificações de atletas de elite do sexo feminino em diferentes temporadas, um formato padrão foi estabelecido e submetido à estudo para avaliar 3 pontos independentes e fundamentais:


Estudo 1 - Validade Concorrente

Estudo 2 - Confiabilidade

Estudo 3 - Sensibilidade


Em conjunto, esses três fatores contribuem para caracterizar um bom teste de desempenho e na figura 12 estão detalhados as informações referentes a cada estudo.

O primeiro fator, a Validade Concorrente, pode ser definido como o grau de correlação

entre um novo método e outro já previamente validado.


Para avaliar a validade concorrente, foi analisado se o desempenho no SAGAT se correlacionava ao Teste Anaeróbio de Wingate em atletas de Ginástica Aeróbica.


O Teste Anaeróbio de Wingate foi desenvolvido na década de 1970 para a avaliação da potência e da capacidade anaeróbia de um indivíduo e, desde sua criação, tem sido amplamente aplicado em diversos estudos envolvendo atletas de alto rendimento.


Foi observado uma correlação positiva entre o desempenho no Teste de Borelli com o Wingate para membros inferiores e superiores.


Os vídeos abaixo mostram uma das ginastas participantes da pesquisa em ação no teste de Wingate.

Além disso, o SAGAT e o Teste Anaeróbio de Wingate para membros inferiores induziram aumentos nos níveis circulantes de lactato similares aos observados durante a realização de uma rotina de competição da Aeróbica. (figura 13)

Portanto, esses dados em conjunto sugerem que o Borelli’s Test apresenta boa validade concorrente ao Teste Anaeróbio de Wingate.


O segundo fator analisado foi a Confiabilidade, que pode ser considerado um

parâmetro de estabilidade do teste.


Para testar a confiabilidade, atletas de Ginástica Aeróbica foram submetidas ao SAGAT duas vezes com um intervalo de 3 dias entre cada teste sem nenhuma intervenção especifica.


Não houve diferença no desempenho entre o teste e o reteste, indicando que o Teste de Borelli apresenta boa confiabilidade. (Figura 14)

Por fim, o terceiro fator a ser testado foi a Sensibilidade do teste, ou seja, o quanto o teste é capaz de detectar mudanças no componente que objetiva avaliar.


Para avaliar a sensibilidade do SAGAT, 30 ginastas de Ginástica Aeróbica foram testadas antes do período preparatório e durante o período de competição, uma vez que nessas fases as atletas estão abaixo de seu melhor desempenho físico e perto do seu melhor, respectivamente.


Como esperado, durante o período competitivo as atletas apresentaram um desempenho muito superior no Borelli’s Test quando comparado com o momento anterior no período preparatório.


Portanto, essas avaliações demonstraram que o SAGAT também apresenta boa sensibilidade ao período de treinamento específico para a Ginástica Aeróbica. (Figura 15)

Tomados em conjunto, esses dados demonstraram que o Teste de Borelli é uma medida específica, confiável e sensível do desempenho anaeróbio direcionado à Ginástica Aeróbia feminina de elite, apresentando grande potencial para ser amplamente aplicado em ambientes de treinamento.


Por outro lado, testes de campo específicos permitem simulação controlada de desempenho relacionado a esportes com aplicativos relevantes para pesquisas aplicadas e configurações reais de treinamento.


Por exemplo, testes de campo específicos podem ser usados ​​por treinadores para monitorar os atletas ao longo de um plano de treinamento anual e o mais importante, o SAGAT pode ser aplicado sem recursos tecnológicos ou grandes aparatos, apenas necessitando de um espaço de 10 metros entre 2 pontos de uma linha reta, conforme veremos na descrição abaixo sobre o protocolo do teste.


Portanto, o objetivo da investigação atingiu seu objetivo que foi desenvolver um teste de campo específico válido, confiável e sensível projetado para avaliar o desempenho físico anaeróbio em atletas de Ginástica Aeróbica.


PROTOCOLO DO TESTE


O Teste de Borelli é composto por 2 séries com 6 sequências consecutivas cada e uma vez que o mesmo foi projetado para focar no desempenho do metabolismo anaeróbio, um período de recuperação de 2 minutos é dado entre as séries.


Cada sequência compreende a execução de deslocamentos curtos e rápidos combinados com alguns elementos específicos da modalidade.


Os indivíduos devem concluir o teste no menor tempo possível, com o contra-relógio usado como medida de desempenho.


O SAGAT inclui três elementos do Código de Pontuação da Ginástica Aeróbica apresentados na figura 16 :


- Tuck Jump

- Push up

- L Support (ou Stradlle Support)



Execução : De acordo com a figura 17, o avaliado encontra-se na posição A e ao comando de “ atenção, prepara, vai” coloca a mão no chão e corre (7 m) em máxima velocidade para a posição B tocando a mão no chão, retornando 2 m e logo ao ultrapassar a linha 1 realiza 1(um) Tuck Jump, desce na sequência ao solo, executando 2 (dois) Push-Ups e em seguida o L-Support (ou Straddle Support), retornando novamente a posição B tocando a mão no solo e desta forma completando a primeira sequência da série, tendo percorrido um total de 11 m.


O avaliado deverá realizar 6 sequências consecutivas, em máxima velocidade e sem intervalo de descanso entre elas.


No final da 6°sequência, a 1° série será considerada finalizada e após 2’ de pausa passiva, mais uma série de 6 sequências, utilizando os mesmos procedimentos da anterior, deverá ser executada.


Após a 6° sequência da 2° série o teste se dará por finalizado e o desempenho será avaliado somando o tempo para completar as 2 séries.


Obs*- O vídeo contendo a execução do SAGAT pode ser acessado diretamente no link do artigo na Plos One (https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0123115)


Como demonstrado o Teste de Borelli foi devidamente validado mas o artigo original na Plos One trás como o único parâmetro de avaliação do teste o tempo para a realização do mesmo, mas o Borelli’s Test oferece um repertório mais amplo a ser explorado (Indíce Numérico, Diferença entre as Séries, Índice de Fadiga, Percentual de Queda de Desempenho, Gráfico de Desempenho) que será o assunto principal da parte 2 que será publicada em breve.


Aguardem!!

 
 
 

1 Comment


Pollyanna França
Pollyanna França
Oct 14, 2021

Obrigada por compartilhar seus conhecimentos! Admiro seu trabalho!

Pollyanna

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